segunda-feira, 29 de agosto de 2011

SONHAR É PRECISO

Estive pensando, nos meus sonhos:
De ser bailarina!
Mas nunca pude frequentar uma escola de balé.

De ser freira...
Mas graças a Deus, Ele mesmo viu que pra tal eu não daria!
Casei com um príncipe, mesmo não sendo “encantado”. Mas, era o homem mais bonito, mais inteligente que conheci e o melhor marido que alguém possa merecer.
Passei a lua de mel em Petrópolis, em pleno verão, quando as hortênsias enfeitavam as estradas e os campos e a brisa fresca das tardes ainda era possível de se sentir nos passeios de “charret” que completavam o nosso romantismo.
Tive filhos, senti o “agre-doce” das dores do parto e multipliquei-me por três mães diferentes: a do corpo, a do coração e a mãe da alma. Assim sinto minha maternidade até hoje, o que prova que este é o sonho que mais se realiza, dia a dia.

De viajar, conhecer a Europa, fazer o caminho de Santiago, ir a Veneza...
Mas não foi possível.
Por isso, quando vi que estavam tão distantes de mim, aparei as asas dos sonhos e voei para mais perto:
Sonhei em passar um carnaval em Olinda, outro no Rio, desfilando na Portela.
Mesmo esses, não se realizaram.
Agora, acho impossível desfilar em qualquer escola, ainda que só me reste a ala das baianas, nessa altura da cronologia.
Quanto a Olinda, não tenho mais pernas pra subir e descer ladeiras atrás do Galo da Madrugada. Talvez eu consiga conhecê-la em qualquer outra época do ano, numa dessas excursões para grupos da terceira idade.
Mas, valeu à pena desejar, porque afinal de contas, outros sonhos meus foram realizados:
Saí mascarada atrás do trio elétrico de Dodô e Osmar, saí no “Paroano sai milhó” em muitos carnavais , dancei marchinhas pelas ruas do Pelô atrás das bandas, fui ver a saída do Ilê e do Olodum.

Sonhei em ser atriz!
Mas terminei sendo professora!
E fiz da sala de aula meu palco, vivendo muitas e boas emoções, que se repetem até hoje, quando sou reconhecida por ex- alunos e ex- alunas de vinte , trinta anos atrás, o que me deixa feliz, porque assim, sinto que fiz diferença positiva na vida de alguém.

Quando me casei, um pôster com a inscrição: ”Sonhos, acredite neles”, adquirido não sei onde, ou presenteado não sei por quem, emoldurava a cabeceira de nossa cama de recém casados.
Acreditei no seu conteúdo, movida pelo romantismo e passamos a sonhar a dois.
A vida nos conduziu por caminhos que nunca imaginamos trilhar. Os passos que demos sim, estes foram cuidadosamente dimensionados, seguros e direcionados para a felicidade. Dessa forma, os percalços foram driblados, os obstáculos transpostos e prosseguimos em comunhão de almas até quando o Universo definiu a finitude da nossa dualidade.

Assim, os sonhos sonhados juntos, para não virarem pesadelos, passaram a ser cultivados nas noites em claro, que aprendi a enfrentar sozinha, vigiando o sono inquieto de nossa filha ou aguardando a chegada dos nossos filhos, quando aprendizes da liberdade.

Em noites de vigília, portanto, fui encontrando o que restou das lembranças da minha juventude, fui juntando pedaços dos sonhos perdidos na minha trajetória, recordações da adolescência, cartas de amor, maternas e tantas outras, crônicas diversas, anseios e registros de momentos congelados em fotografias.

As palavras surgiram... Inesgotáveis!
Precisei organizá-las, transformando-as em frases, em textos, reescrevendo fatos, mudando o curso de estórias, relatando novas experiências, explorando novos sentimentos, descobrindo novos caminhos.

E ao percorrer esses novos caminhos concretizo os sonhos: sou ao mesmo tempo narradora, expectadora e protagonista.Transformo-me em restauradora de recordações, em tecelã de esperanças, quando busco no fundo do baú, os fios da saudade e reconstruo os fatos escrevendo contos, crônicas e poemas.
Sinto-me gestante de cada personagem que surge nas histórias; e que se materializa exigindo de mim uma responsabilidade tão grande, quanto trazer ao mundo, um novo filho.

E a vida se refaz!
E os sonhos se renovam!
Preciso deles para não sucumbir na solidão...
Sonhar, é preciso!

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