segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Saudade

Sabe, quando o coração fica apertado e a boca seca? Quando o sábado passa em um ritmo lento e a vontade de ficar o dia inteiro na cama motiva a tomar um banho bem quentinho? Quando o corpo não obedece ao comando do cérebro e aquela lágrima que esta presa no cantinho do olho insiste em cair ao som daquela música inesquecível? Pois é... Alguns chamariam isso de “um dia ruim” ou até mesmo de “início de depressão”, mas para mim esses sinais são característicos de um sentimento que não existe em todas as línguas, mas habita o coração de todos os povos independente de língua, raça e religião; isso tudo são sintomas de saudade.
Certa vez um professor amigo me disse que a palavra que ele mais gostava era saudade. Confesso que no momento não compreende, pois com tantas palavras mais bonitas e sonoras, saudade soou como a “prima pobre” de amizade, fraternidade, amor, coragem, liberdade e tantas outras. Percebendo meu ar de desdém ele me disse pausadamente, enquanto colocava uns objetos dentro de um saquinho transparente com estrelinhas azuis: saudade sim, pois quando sentimos saudade de alguma coisa, pessoa ou situação é sinal de que foi bom e valeu tanto a pena que se pudéssemos faríamos tudo novamente. Esse momento ficou registrado na minha memória e toda vez que sinto saudade, seja do que for, lembro desse dia e de todos os detalhes que fazem essa lembrança ser tão viva e presente na minha vida.
Saudade é um sentimento bom e ruim ao mesmo tempo, pois mesmo sendo a prova de que vivemos momentos maravilhosos ela também deixa claro que essas situações fazem parte do passado e que só nos resta lembrar. Posso dar milhares de beijos, mas nenhum vai ter o mesmo sabor e o mesmo sentimento do primeiro; posso fazer várias viagens de avião, mas nenhuma vai me fazer sentir a mesa sensação de liberdade e de possuir azas como a primeira; posso amar vários homens, mas nenhum amor vai ser tão inocente, puro e intenso como o primeiro. Cada situação, cada conquista, cada dor, cada dia e cada minuto são únicos e a saudade é o nosso termômetro, é a forma que o coração tem de fazer um balanço geral e perceber se os caminhos percorridos valeram mesmo à pena.
Hoje a minha saudade começou do nada, veio e me fez buscar no meio dos meus arquivos uma música que diz muito sobre os caminhos que trilhei até esse momento. Resiste no início, não queria fazer o que sempre faço quando escuto essa canção, mas a melodia foi invadindo os espaços da minha alma e preenchendo os meus “sintomas de saudade” de tal modo que uma lágrima brotou no meu olhar e fez um caminho solitário até o meu coração onde esperou todas as outras que a seguiram. Que saudade de um, certo alguém que chegou sem saber e fez o amor florescer no meu coração como o mandacaru no meio do sertão; que saudade de mim e da minha capacidade de dar um sentimento tão puro e sincero esperando apenas um olhar que confirma-se um querer mutuo; que vontade de recuperar o tempo perdido e dedicado a um amor que não saiu dos meus sonhos e não floresceu em outros sertões.
Saudade é assim mesmo, vem sem avisar e nos faz reviver momentos únicos e apesar de tudo maravilhosos. O que destrói é a vontade de voltar no tempo e chegar no minuto exato onde o silêncio seria transformado em sim e a tristeza seria transformada em vida, luz e canto. Saudade é um sentimento que não se explica apenas sentimos. Pensar que é bom sentir essa dorzinha aguda que fere e faz chorar (mesmo sem as lágrimas) é reconhecer que apesar de todos os caminhos traçados na trilha da solidão ou não, a saudade só se manifesta em corações que tem boas histórias para contar e recordar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário